Neste ano, quatro em cada dez habitantes do planeta terão a chance de votar em eleições nacionais. Isso não significará uma celebração da democracia. Apenas 8 dos 50 países que terão eleições nacionais são considerados democracias plenas. Será também o ano da popularização da geração de imagens por inteligência artificial, e de seu emprego em massa nas campanhas eleitorais.
Entre as democracias plenas estão o Reino Unido, Taiwan e o Uruguai, segundo o critério da Unidade de Inteligência da revista Economist. Os Estados Unidos estão incluídos na categoria de “democracias falhas”, que somam 21 países, e incluem a Índia, a Indonésia e a África do Sul.
El Salvador, Paquistão e Tunísia, fazem parte dos “regimes híbridos”, celebrada inicialmente como a única democracia resultante da Primavera Árabe. Por fim, há 15 regimes autoritários, que realizam eleições para forjar uma aparência falsa de legitimidade, como é o caso de Venezuela, Rússia, Irã e Ruanda.
Há os problemas estruturais na democracia de cada país. Há as estratégias de perpetuação no poder de líderes políticos que incentivam a polarização e a identificação cultural para governar sem ter de prestar contas sobre resultados. E há a criação de realidades paralelas.
Um relatório das agências de inteligência americanas apontou forte atuação de agentes chineses, russos e cubanos nas eleições para toda a Câmara dos Deputados e um terço do Senado em 2022. O intuito era prejudicar candidatos favoráveis aos direitos humanos, a Taiwan e à Ucrânia.
Para que a democracia funcione, a sociedade precisa estar de acordo sobre os fatos. A partir deles, haverá opiniões diversas. Se os fatos forem os mesmos para todos, é possível negociar soluções. Se não houver consenso sobre os fatos, não há terreno comum para a negociação.
A polarização baseada na política identitária condena à negociação, por considerar o adversário político um inimigo, alguém que, se não for destruído, destruirá o oponente. O “deep fake” é visto como uma arma legítima nessa guerra sem regras.
Cabe ao Congresso criar leis para coibir esse abuso; à polícia, ao Ministério Público e à Justiça se capacitarem para colocar essas leis em prática; e ao jornalismo, exercer o seu papel de separar fatos de mentiras.