Dois integrantes do Comando Vermelho (CV) conseguiram escapar da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) na madrugada de segunda-feira (19), em uma ação que surpreendeu as autoridades e colocou em xeque a segurança do sistema penitenciário federal. A fuga foi a primeira registrada em uma unidade federal desde que o modelo foi criado, em 2006, e revelou falhas na vigilância, na estrutura e na gestão das prisões de segurança máxima.

Os fugitivos são Rogério de Souza, o “Rogerinho”, e Leomar de Oliveira, o “Buda”. Ambos são considerados matadores de aluguel do CV e estavam presos desde 2017, acusados de participar de uma chacina que deixou dez mortos em uma fazenda no Mato Grosso. Eles escaparam por um buraco feito na parede da cela, que dava acesso ao pátio externo da penitenciária. De lá, pularam o alambrado e fugiram em um carro que os aguardava do lado de fora.
A fuga só foi percebida pelos agentes penitenciários horas depois, quando foi feita a contagem dos presos. A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar as circunstâncias da fuga e a possível participação de funcionários do presídio. O Ministério da Justiça e Segurança Pública, comandado por Ricardo Lewandowski, também instaurou uma sindicância interna para investigar o caso e determinou uma série de medidas para reforçar a segurança nas unidades federais, como a construção de muralhas, a instalação de câmeras e sensores, e a revisão dos protocolos de vigilância.
A fuga dos integrantes do CV contrasta com as tentativas frustradas do Primeiro Comando da Capital (PCC) de resgatar seu líder máximo, Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, que está preso na Penitenciária Federal de Brasília desde 2019. Condenado a mais de 300 anos de prisão, Marcola é o principal alvo da facção paulista, que já elaborou diversos planos para libertá-lo, envolvendo desde helicópteros a investimentos milionários. Um dos mais recentes deles monitorava inclusive o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que teria sido cogitado como uma possível “moeda de troca” para a soltura do chefe do PCC.
No entanto, nenhuma das tentativas do PCC foi concretizada, graças ao trabalho de inteligência e monitoramento das forças de segurança. Além disso, a obsessão pela libertação de Marcola teria gerado um racha interno na cúpula da facção, que estaria dividida entre os que apoiam a continuidade dos planos e os que defendem uma mudança de estratégia, focando na expansão territorial e no domínio das rotas do tráfico de cocaína.
A fuga do CV e a frustração do PCC evidenciam a disputa entre as duas maiores facções criminosas do País, que travam uma guerra pelo controle do mercado ilegal de drogas e armas. A rivalidade entre os grupos já provocou massacres em presídios, ataques a ônibus e bases policiais, e assassinatos de autoridades e agentes públicos. A situação se agrava com a fragilidade do sistema penitenciário, que sofre com a superlotação, a corrupção, a falta de recursos e a influência das organizações criminosas.
Diante desse cenário, especialistas em segurança pública defendem a necessidade de uma reforma estrutural e gerencial do sistema penitenciário, que inclua a melhoria das condições de trabalho dos agentes, a capacitação dos gestores, a fiscalização das unidades, a ressocialização dos presos e a integração entre os órgãos federais, estaduais e municipais. Além disso, alertam para os riscos de uma política de encarceramento em massa, que pode agravar a violência e a vulnerabilidade social.