Um contador que já trabalhou para o presidente Lula, seu filho Lulinha e um traficante do PCC está sendo investigado pela polícia por ter ganhado 250 vezes na loteria nos últimos três anos. João Muniz Leite, de 60 anos, afirmou em depoimento sigiloso que recebeu cerca de R$ 20 milhões em prêmios, sendo 55 só em 2021. Ele disse que joga na loteria desde os 18 anos e que tem muita sorte.
Muniz era homem de confiança do advogado Roberto Teixeira, o compadre de Lula, e prestou serviços de contabilidade para o presidente, seu filho e suas empresas. Ele também admitiu que trabalhou para um líder do PCC, a maior facção criminosa do país, mas alegou que não sabia de sua atividade ilícita. Ele disse que foi contratado por uma empresa de segurança que pertencia ao traficante e que fazia apenas o trabalho de escrituração fiscal.
A polícia suspeita que Muniz possa estar envolvido em esquemas de lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e sonegação fiscal. Segundo as investigações, Muniz mantinha uma empresa no mesmo endereço do escritório de Lulinha, a G4 Entretenimento e Tecnologia Digital Ltda, que foi alvo de uma operação da Receita Federal em 2019 por suspeita de fraudes.
Muniz já foi ouvido como testemunha na Operação Lava Jato, no processo do triplex do Guarujá, pelo então juiz Sérgio Moro. Na época, ele negou que os recibos de aluguel de um imóvel vizinho ao de Lula fossem falsos, como acusava o Ministério Público Federal.
A defesa de Lulinha disse que as investigações sobre Muniz nunca atingiram o filho do presidente e que ele não tem nada a ver com os prêmios de loteria. Já o Palácio do Planalto afirmou que Lula não tem laços com o contador, que fez apenas poucas vezes a declaração de imposto de renda do petista.
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JOÃO MUNIZ LEITE/CONTADOR – 60 ANOS
- Trabalhou como contador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do filho Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha.
- Lulinha manteve empresa G4 Entretenimento e Tecnologia Digital Ltda, entre 2019 e 2023, no mesmo endereço do escritório de Muniz, de acordo com a Junta Comercial de São Paulo.
- Muniz teve entre seus clientes um dos integrantes do PCC, Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta ou Magrelo, ainda que o conhecesse apenas pelo nome de Eduardo Camargo de Oliveira – identidade falsa.
- A 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro da Justiça Estadual de São Paulo determinou o bloqueio de R$ 45 milhões em imóveis e ônibus de integrantes do PCC e de Muniz.
- Para o Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes (Denarc), Muniz “transferiu valores para as empresas de Anselmo”, que funcionavam no mesmo endereço do escritório do qual o contador era sócio.
Um contador que já trabalhou para o presidente Lula e seu filho Lulinha está sendo investigado pela polícia por ter ganhado na loteria com um acusado de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. João Muniz Leite, de 60 anos, afirmou em depoimento sigiloso que ganhou mais de 250 vezes na loteria nos últimos três anos, somando cerca de R$ 20 milhões em prêmios. Ele disse que tem muita sorte e que joga todos os dias em todos os tipos de jogo possíveis.
Muniz prestou serviços de contabilidade para o presidente, seu filho e suas empresas, além de outras pessoas e empresas ligadas ao advogado Roberto Teixeira, o compadre de Lula. Ele também confessou que trabalhou para Eduardo Gritzbach, que usava o nome falso de Anselmo Santa Fausta e que foi preso em 2023 por ser o responsável por uma rede de lavagem de dinheiro que movimentou mais de R$ 100 milhões. Muniz disse que não sabia da origem ilícita do dinheiro de Gritzbach e que fez apenas alguns serviços para ele, como retirar um certificado digital e indicar uma construtora para investir.
Muniz contou que ganhou na Mega-Sena com Gritzbach em 2021, quando ele foi ao seu escritório para fazer a declaração de imposto de renda. Ele disse que um funcionário seu perguntou quem queria participar de um bolão e que Gritzbach se interessou. Ele teria entregado R$ 8 mil para Muniz, ficando com três das cinco cotas do jogo. Para a surpresa de ambos, a aposta foi a premiada e eles dividiram o prêmio de R$ 40 milhões. Muniz disse que 55 prêmios ficaram em nome de sua mulher porque era ela quem buscava o dinheiro nas lotéricas perto da casa da família.
Muniz afirmou que usou o dinheiro dos prêmios para comprar imóveis, ajudar parentes e quitar uma dívida de R$ 6 milhões. Ele disse que isso explicaria o fato de a Justiça ter bloqueado apenas R$ 500 mil em sua conta. No entanto, a polícia suspeita que Muniz possa estar envolvido nos esquemas de Gritzbach e que tenha transferido valores para as empresas dele, que funcionavam no mesmo endereço do escritório do qual o contador era sócio. A polícia também acredita que Muniz tenha praticado o crime de falsidade ideológica ao colaborar com a identidade falsa de Gritzbach.
A defesa de Muniz não foi localizada pelo jornal Estadão. A defesa de Lulinha disse que o caso nunca atingiu o filho do presidente e que ele não tem nada a ver com os prêmios de loteria. O Palácio do Planalto disse que Lula não tem laços com o contador, que fez apenas poucas vezes o imposto de renda do petista. A defesa de Gritzbach também não foi localizada.