Declaração feita nas redes sociais levanta debate sobre saúde mental, uso de recursos públicos e empatia social
Chapecó, Santa Catarina – O prefeito de Chapecó (SC), João Rodrigues (PSD), se envolveu em uma grande polêmica após publicar um vídeo em suas redes sociais, nesta sexta-feira (16), no qual critica abertamente pessoas que levam bonecos hiper-realistas do tipo “bebê reborn” para unidades de saúde da cidade. O vídeo viralizou rapidamente e provocou uma enxurrada de reações nas redes sociais, dividindo opiniões entre apoiadores da gestão e críticos da fala.
No vídeo, o prefeito declara de forma contundente:
“Se alguém for pegar ficha para bebê reborn, a ordem está dada: pode internar involuntariamente, porque a pessoa não pode estar bem.”
Bebê reborn: o que são e por que a fala gerou tanta repercussão?
Os bebês reborn são bonecos altamente realistas, produzidos artesanalmente, que simulam com extrema fidelidade um bebê humano recém-nascido. Eles são adquiridos por colecionadores, por pessoas em processo de luto e até por adultos que utilizam os bonecos como forma terapêutica para lidar com traumas, perdas ou questões psicológicas mais profundas.
É justamente esse aspecto que fez a fala do prefeito repercutir de maneira tão intensa. Para muitos, a declaração foi insensível e estigmatizante em relação à saúde mental, principalmente por envolver pessoas que lidam com perdas ou condições emocionais que as levam a cuidar de bonecos como se fossem filhos.
Reações nas redes: entre apoio e repúdio
Logo após a postagem, o nome de João Rodrigues ganhou destaque nacional, com o vídeo sendo compartilhado em diversas páginas, grupos e perfis. A fala recebeu tanto apoio de internautas que concordam que o sistema de saúde não deve ser usado para situações fictícias quanto duras críticas de pessoas que acusaram o prefeito de preconceito, falta de empatia e até mesmo abuso de autoridade.
Um dos principais pontos questionados por profissionais da área de psicologia e saúde mental foi o uso do termo “internar involuntariamente”. Segundo especialistas, esse tipo de medida só pode ser adotado com base em avaliação psiquiátrica e dentro dos limites legais definidos por lei, o que não se aplicaria diretamente ao caso citado pelo prefeito.
Posicionamento do prefeito: crítica ao uso de recursos públicos
Em entrevista concedida à imprensa local após a repercussão do vídeo, João Rodrigues afirmou que sua intenção não era ofender ninguém, mas sim fazer um alerta sobre o uso inadequado de recursos públicos destinados à saúde.
“Eu não sou contra quem coleciona bonecos, não tenho nada contra isso. Mas usar o sistema público de saúde, que já é sobrecarregado, para simular uma consulta com um boneco, isso sim é um problema. É uma banalização do sentimento verdadeiro por uma criança”, declarou.
Rodrigues ainda reforçou que não pretende legislar sobre o assunto ou criar qualquer tipo de norma municipal em relação ao tema.
“Vamos parar com essa loucura”, completou o prefeito, ressaltando que o mundo precisa de mais espiritualidade e empatia real.
O que diz a legislação sobre esse tipo de situação?
No Brasil, não há uma legislação específica que regulamente o atendimento de pessoas que levam bonecos reborn a unidades de saúde.
Em alguns casos relatados em outras cidades do país, pessoas levaram bonecos reborn para acompanhar consultas como forma simbólica de lidar com traumas ou perdas. Embora raros, esses casos têm gerado discussões sobre como o sistema de saúde pode (ou deve) lidar com essas situações de maneira humanizada e equilibrada.
Discussão vai além da polêmica
O episódio envolvendo o prefeito de Chapecó escancarou um debate maior: como lidar com as novas formas de expressão emocional, terapias alternativas e o uso de recursos públicos com responsabilidade, mas também com empatia?
Enquanto alguns enxergam exagero e uso inadequado da estrutura pública, outros alertam para o risco de desumanização e julgamento raso de pessoas em sofrimento psicológico. O tema, ao que tudo indica, seguirá em pauta nos próximos dias, à medida que mais vozes — inclusive de especialistas em saúde mental e direito — se manifestem sobre o ocorrido.